Sindicalista lutou na década de 60 para proteger o movimento dos trabalhadores e das trabalhadoras rurais.
Em 1960 a discussão das leis trabalhistas como, por exemplo, a implementação da Gratificação de Natal, mais conhecida como décimo terceiro salário, e o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), estavam em pauta entre parlamentares de todo o país e aqui no Rio Grande do Norte existiam pessoas que lutavam durante essa década para proteger o nosso futuro trabalhista, no movimento rural e também urbano. José Faustino de Medeiros, conhecido como Zé Gordo, apelido passado de pai para filho, era uma dessas pessoas.
Zé Faustino nasceu no dia 17 de fevereiro de 1935 em Cruzeta/RN. Conheceu o movimento sindical por meio de um vigário, padre que substitui o pároco de uma paróquia, em 1960, que pregava na Igreja de Cruzeta, “Ele passava por Jardim do Seridó, Cruzeta e Ouro Branco, nunca falhava, era sempre uma semana em cada município”, relata o militante. O padre Ernesto Respindola, soube do movimento sindical e levou a ideia para a igreja, contava aos seus fiéis que os trabalhadores deveriam se unir para reivindicar os seus direitos.
“Eu morava em um sítio e não conseguia participar de tudo, mas pelo menos a missa das sextas e dos domingos nunca perdia”, conta Faustino. Os pensamentos de liderança e as instruções do padre foram aderidas pelos trabalhadores dos municípios, a arquidiocese de Natal também influenciava os agricultores da região, eles participavam ativamente das reuniões para construir um pensamento político e crítico diante das situações precárias de trabalho, “Não foi algo que a gente escolheu, fomos despertados”.
Depois de três anos, em 1963 o sindicato de Cruzeta/RN foi fundado, “Já tinha naquela época um órgãozinho da Fetarn, era pequenininho, mas funcionava. Ficava aqui na rua de frente, na rua Jundiaí, era bem rústicozinho”, José ainda complementa que o movimento foi crescendo e mais sindicatos foram formando-se no Seridó, posteriormente ele concorreu para a vice-presidência da Federação dos Agricultores. Na época, o presidente Francisco Urbano solicitou que Zé Faustino fizesse um levantamento acerca dos novos sindicatos da região, o pedido foi prontamente atendido e o sindicalista saiu na missão de documentar essas presenças.
Movimento e Ditadura Militar no RN
Em 1964, os movimentos viraram de cabeça para baixo, existiram mudanças desconcertantes, a repressão não tinha limites e poderia ser executada de diversas formas, físicas ou mentais, mas a luta não pararia por aí e as pessoas resistiram. “Eu ia para a cidade (centro de Natal) e os sócios dos sindicatos falavam que eu ia ser preso e eu respondia que não tinha problema, estou aqui para o que vier, vim para resolver”, o sindicalista lidava com diversos problemas, entre unir e organizar o movimento, bem no ápice da ditadura brasileira.
“Eu nunca fui preso, mas tive muitos aborrecimentos, porque quem trabalha certo tem aborrecimento mesmo, preferi passar por apuros, mas não mentia, nunca gostei dessas histórias”, a partir das suas crenças, com muito trabalho e esforço, José conseguiu construir com outros companheiros os sindicatos de Carnaúbas, Parelhas, Acari, São José do Seridó, Florânia e o último foi o de São Vicente, apesar de ter contribuído com todas essas fundações, hoje em dia ele não conhece a diretoria atual de nenhum dos sindicatos, devido à sua idade e condições de saúde.
Atividade Laboral e Família
Ao ser questionado sobre o apoio dos familiares, Zé Faustino afirma que sempre teve apoio da esposa e que ela o incentivava a ir para a capital, participar do movimento e ainda, cuidava da casa e dos filhos durante o período que ele estava trabalhando, “Antigamente era tudo diferente, a gente não tinha os equipamentos atuais, conforme eu fui entrando no movimento não conseguia mais conciliar as duas coisas, devido ao tempo, então a minha mulher fazia tudo e eu sou muito grato por isso, ela cuidava muito bem de mim, não irei esquecer.”
Hoje, aos 89 anos, ele mora com a sua filha Elinete Betânia e reside próximo à casa do seu outro filho, Bartolomeu, em Cruzeta/RN. Betânia assume a responsabilidade de cuidar do pai, “Ela é meio braba, mas cuida direitinho de mim”, os dois riram e concordaram, ela relata que o pai não quer mais sair de casa, mas insiste em levá-lo aos lugares. José Faustino de Medeiros, conheceu a nova sede da Fetarn pela primeira vez no dia 13 de maio de 2024, após 64 anos de muita luta e participação ativa no movimento. Ele foi e ainda é um símbolo de resistência no movimento sindical rural e serve de exemplo para a nossa atualidade