Marta Maria da Costa, é o seu nome de batismo, o primeiro nome concedido a uma mulher que escolheu a luta. Nascida no município de Sapé, na região da zona da mata da Paraíba, em 13 de fevereiro de 1925, hoje a ativista completa 100 anos de vida e também, de resistência camponesa. Considerada um símbolo vivo, a sua trajetória em defesa do campo iniciou após o assassinato do seu marido, João Pedro Teixeira, em 1962, em Sapé/PB.

Elizabeth não só levou consigo a herança do trabalho do marido, como também perpetuou uma nova corrente de resistência feminina, organizando e orientando comunidades de trabalhadores rurais em diversas partes do Brasil. Dentre muitos feitos, a militante continuou com a Liga dos Camponeses Pobres e participou ativamente de movimentos que visavam garantir melhores condições de vida para quem vive no campo.
Mas a sua jornada, para quem acredita em destino, já estaria traçada a muito tempo. Antes de falecer, a mãe de Elizabeth, Altina da Costa, afirmou que a filha questionava desde pequena a situação degradante dos trabalhadores da propriedade da família. Entretanto, todas as indagações e enrijecimento da menina acerca dessas questões e até do seu próprio futuro estudantil, eram ignorados pelo pai.
Tudo conspirava ao contrário, Elizabeth era filha de donos de terra, cercada por um ambiente opressor e jamais teria poder das suas próprias escolhas a não ser que renunciasse os seus privilégios. Foi o que ela fez, casou com João Pedro Teixeira e rompeu com sua família para viver o novo, o inesperado. Conforme entrevista cedida ao G1, Rosa Maria Godoy, uma das escritoras do livro “Eu marcharei a sua luta: a vida de Elizabeth Teixeira”, relata que a relação com o marido dela foi um divisor de águas, a inserção social ampla proporcionou um novo olhar sob as lutas sociais.

A morte do marido já era premeditada pela esposa, ela se preocupava constantemente com a sua segurança, visto que as ameaças já circundavam a família como um jogo de tiro ao alvo. Ela temeu pelo pior, a morte era uma espécie de dementadora, estava em todos os lugares, através da fome, das lutas armadas e das doenças. A premonição se concretizou, João Pedro morreu aos 44 anos após esbravejar aos quatro ventos a liberdade dos seus iguais, foi emboscado após descer do ônibus, surpreendido pela morte.
Com todos os acontecimentos Elizabeth parou de temer, se comprometeu em continuar lutando pelo seu marido e por seus princípios, “Você sempre me perguntava se eu continuaria sua luta caso algo acontecesse. Eu ficava calada, sem saber o que dizer. Hoje, eu digo que continuarei sua luta João Pedro, até o fim”, afirmou a esposa no dia do velório.
A partir de 1962, Elizabeth Teixeira foi presa várias vezes, mas nunca se deixou abater ou ceder às ameaças que enfrentava. Oito meses após a morte de seu marido, ela desafiou dois proprietários de engenho da região ao questioná-los sobre a expulsão de camponeses, o que resultou em sua prisão no mesmo dia. Após ser libertada, o clima de terror se manteve, e, seguindo a orientação de outros ativistas, ela foi forçada a buscar abrigo em Recife. No entanto, a polícia a localizou em diversos locais onde tentava se esconder, obrigando-a a se refugiar no Rio Grande do Norte, onde conseguiu se manter fora do alcance.

Para escapar de todos os conflitos ela mudou de nome, virou lavadeira para o sustento de si e dos filhos, posteriormente para evitar a fome, ela começou a dar aulas para os jovens no campo. Foi uma mudança árdua de realidade, totalizando em 17 anos sobrevivendo em silêncio com muita dor em decorrência da perda dos seus filhos.
Os anos seguintes até o presente foram marcados por uma persistente batalha de Elizabeth para manter sua conexão com a luta rural. Em um Brasil que passou pela redemocratização, ela continuou a defender a importância da reforma agrária, atuando em movimentos, eventos, articulações políticas e incentivando os jovens a se engajar cedo na luta por terras coletivas.
Ela não enfrentou essa jornada sozinha, e seu nome permanece vivo nas manifestações em defesa das mulheres, vítimas de uma violência que une dois problemas: gênero e classe